quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

www e pronto.

23 MINUTOS SE PASSARAM
as corredeiras do rio da morte foram ficando perenes
inertes ao frio que descia das montanhas geladas do outono
Maíra e Claudio faziam amor por email um em cada margem do rio.

Ao gozo frenético e telepático de um clique
o delete da conexão interrompeu a gestação de mais uma noite de amor
a sensação de impotência foi aproximando os olhos e refrescando as têmporas
o silêncio dominava a alma e o barulho da vida incendiava os sentidos em vão.

Máira gemia e gritava, Claudio olha e gesticulava a flâmula  desfraldada de sua calça
o gozo molhado, o suor e a boca trêmula da fêmia percorriam as margens de um lado ao outro
o masculino dessa vertente não emitia sons, só fazia as caretas peculiares de um animal
sedento por amor e impedido pela distância que água impunha.

Fim do gelo
a conexão  reestabelecida
e o amor,
foi procurar
um novo rio
disposto
a aproximar a pele
e o sentimento
separados pela evolução humana
distanciados pela necessidade premente
de tecnologia,
o cupido das histórias
se refugiou na mata
desvirginada pela ganãncia,
na esperança
que uma alma cheia de benevolência
estivesse apta a amar o toque
da pele
o calor do corpo
e o sentimento sincero...

Seguimos agora o enterro do cupido
funesto e ultrapassado sentimento
que foi trocado pela procura
de um endereço e um rosto moldado
nas telas de LCD, e o sonho do amor verdadeiro
fica
cada
vez
e
insuportavelmente
maior
à medida
que a velocidade dos gigas e das memórias artificiais
se multiplicam
e o amor
MORREU
e a poesia
ENTERRADA
na alvorada de mais um dia de geladeira vazia
e nós como ficamos,
SEPARADOS
pelo oceano
de conexões difusas
e a vida
PERDIDA
num desses www e pontos,
pronto.

andi valente.

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