terça-feira, 28 de agosto de 2012

entranhas


Dei
meus melhores
urros
nos emaranhados
de suas
entranhas

Ah se os lençóis 
amarelados esgarçados pelo vento
contassem,
se meus laços de cambraia
sob a brisa quase fresca
contassem,
se as réstias de umas rezas
sob o som de uma floresta
contassem,
e as sementes de pitangueira
espalhadas pelo tempo
contassem,
e se a fresta da janela
não deixasse sombras negras...

Meu silêncio
nos escombros da rotina
pele fina, mão macia
nas auroras do seu corpo
fui tecendo meu encosto 


De um sonho todo escuro
vi nascer 
novas batalhas
guerras santas
coisas raras
nas ancas de um ancião
fui saber 
das alvoradas

Com navalhas quase cegas
fui carpindo meus sentidos
fui fazendo mil retratos
fui despindo meus rugidos
fiquei nu 
quase sumi
meus segredos congelei
em geleiras de águas pálidas

No recôndito de seus ouvidos
fiz as graças mais iradas
disfarcei novos zumbidos
delirei nas madrugadas...


Dei
meus melhores
urros
nos emaranhados
de suas
entranhas

andi valente


flores de agosto

Seus olhos
rabiscados nos vendavais de outrora...
Entre laços
laçado fui
entrelaçado dentre tantos
fui fisgado
sentido de perder-se
Nas auroras de qualquer dia
fui nas beiradas de todas as construções
sem perceber que meu coração
sonhava...

E os repentes tocavam os sinais de liberdade
Meus outonos chegavam ao fim
As flores brotaram depois de luas nem sempre
tão cheias
Flores de agosto
Minhas primaveras chegaram antes
do calendário
minhas folhas sempre na contramão
desfilavam em chão de estrelas

Sonho com você
E me pergunto
Em qual esquina esqueci de te ver
qual pedaço de mim foi morar
nas moradas do teu sol
o seu sorriso me acorda todas as noites
a música do teu silêncio
embala meu ser
o tempo se esqueceu de te perder

Fiz promessa de não prometer
Encontrar você num descuido do acaso
Espero a lua crescente se refazer
e peço que me leve até você
Fazer meu sonho acontecer

São as flores de agosto
Espero o sim
Até poder sentir
Você multiplicar em mim
o amor que sinto
sem perceber o fim

São as flores de agosto
perfume que me faz sonhar
O outono que já se fez
O ano que começa na primeira
lua
da minha primavera cheia
Faz o sonho acontecer

andi valente








Tive

Tive
que despojar-me
de verdades
inteiras
de metades
complexas
das absolutamente
absurdas

Tive
que repaginar
enfrentar
as caretas feridas
tristezas incontidas
refazer escolhas
reencontrar-me
em ilhas vazias
nas loucuras
das minhas próprias fantasias

Tive
que não ter
deixar-te ir
ficar no meio de tudo
sem nada saber

Tive
todos os fins
pra te ter
os meios
pra não lembrar-me
de você
refiz os caminhos
deixei rastros solitários
para não perder-me
de mim

Tive
que ser
o que não quis parecer
encontrar algo
pra não te esquecer

Tive
que viver outras histórias
para perceber
que o que sinto
é amor
por mim e por você

andi valente

domingo, 19 de agosto de 2012

engano meu

Suspiros
vazios
que
se
repelem
sempre
Contratempos
estampados,
rimas
encravadas, angústias
fins de frases
desconexas
amores
cálidos
ruas
mórbidas
camas
frias
um
choro
dolorido
por
medo
da solidão...

Menti
Senti
Foi
foram
flores
do
meu
jardim
que
se
foram

Vento
Tempestade
Trovão
tentei
ser
O perfeito na imensidão,
em vão,
fui
O louco vacinado pelos vencedores da opinião!

Vendi
Venderam
Vendido
compraram minhas ruas,
minhas palavras cruas
fiquei ao chão
sem
remorso
sem
compaixão

Ninguém
entende
Se
permite
Não

compreensão

cobrança
de
perfeição...

andi valente

Réstia de reza sem fim

É engraçado cachinar-se vorazmente
Sem o medo de mostrar-se desdentado
Desprender-se do ridículo das palavras
Destoar do arcabouço das verdades

Filosofar perante o altar de espelhos nus
É
Ignorar as agruras de sentimentos meus
Foragir-me ante o medo de julgamentos toscos
Sendo tosco mesmo
Julgamentos meus

O belo necessita do feio
o perfeito das imperfeições do alheio
O correto das incorreções do erro
Eu?
Preciso do meu eu presente!

Eu não queria querer tanto tanta coisa
que não sei se preciso ter
Escrever sobre sentimentos que nunca saberei
se precisei tê-los

Zampava minhas necessidades
meus questionamentos
Meu ego dilatado cheirava problemas
Único
Veloz
Infinito
A infâmia de não acreditar em si
é que tudo retorna nem sempre da melhor forma
vem de qualquer jeito

Sou folga
flor
Réstia de reza sem fim
Amador
Jogador que rima jogo ruim

Julgador de mim
O juízo final chegou
A colheita nem sempre é refeita
Pois a plantação se findou
A
folha da trepadeira
não nasceu
A
pitangueira chorou suas flores
Eu?
Fui construir
meus inícios
e terminar
meus fins...

andi valente




quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Constatações!

As folhas vivas
respiram o hoje
com o velho passado
sempre presente

Fugiram
as lições
perderam-se certezas
erraram todas as profecias
os medos despiram-se cedo
lágrimas engoliram o seco

Falta-me  o nada
o simples complicou-se
a razão transpira decepção
o norte virou súplica
o ter perdeu-se diante
de possibilidades

As noites cegas
choram às claras,
tempestades de falas
de um ser em compreensão
que
vive o silêncio da solidão

O guerreiro veste-se de paz
Santa espada da solução
Falta-me o desejo de ficar
Desejo de sucumbir do nada
Viva são as batalhas do coração!

Sofro em teimar não ir...
-Terra nas vísceras!
Sobrancelhas soterradas de vícios:
- Não quero mais o mesmo menos!

As plantações amadureceram
Colheita cheia de ventos
Sabedoria que não se conquista
com a adição de rugas frias

Ninguém amadurece as tristezas
que brotam na alma

Ninguém chora por ninguém
eu choro das minhas próprias fraquezas

- Quem mandou afogar-se em sorrisos tristes!

Tudo volta a quem volta a ser seu
...

andi valente





quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Velho vício!

Velho vício
de querer ter
o que já tenho
de somar
o que é de menos
multiplicar problemas efêmeros
dividir sentimentos plenos

A roupa encardida
dependurada no varal
de minha história
vicia minha nau presente
me tira o prumo
viro indigente

Velho vício
que embriaga meu agora
me cega,
me incomoda,
bebo água
peço esmola
meus rompantes sempre estão
fora de moda

As paineiras de outrora
sumiram do dicionário
meus pecados
de tão velhos e borrados
foram suspensos pelo destinatário
mas a plantação,
essa,
colho sem perdão

Velho vício
de esperar a esperança perdida
Achei que pudesse parar de queimar
Pensei, oras,
pensei que fosse alguém sem importância
mas sou muito importante
minhas mãos não vivem sem mim...

Velho vício de ser infeliz
de chorar para não sorrir
mas tudo termina qualquer
dia desses
antes que o sol esmoreça
e a lua se esqueça
até a teimosia de não querer ser feliz...

andi valente