Era um qualquer amoado naquele sofá
recoberto de flanelas coloridas
O vento forte zunia no telhado
estremecendo cada recanto do meu quarto
Mesmo com todas as janelas fechadas
As cortinas insadecidas bailavam desajeitadas
Na estante Clarice enfileirados
Prontos para serem saboreados
intocados e jamais manuseados
serviam de abstratos relicários de decoração
Eu odeio os seres humanos
faço parte desta mesma irmandade
mas metade que me conduz é luz,
metade do que produzo é excesso
excremento.
Errei
troquei o correto
pelo turbulento,
troquei o maduro,
pela ficção,
prazeroso pecado do gozo
meu coração samba canção bailava ao
som da valsa dos seus quadris
na simetria imprecisa de suas medidas
das cores desbotadas de suas meias furadas
no tango frenético do seu nariz
dos cabelos tricolores
da palavra indolor misturada
ao odor do nosso amor
na mentira contida
do desejo maroto de cada beijo.
Neste sofá todas as loucuras foram permitidas
me entreguei,
lascivo em todos os pedidos
cedi em todos os sentidos
a cada ereção uma explosão
quanto mais enrijecia
tanto quanto queria
pedia,
queria bajulação
uma lambidela nas brasas do meu coração.
Sementes do prazer
no meu querer
mal sabia que o sêmem
semente cultivada nas madrugadas
já estava contaminada pelo
passado silente que
só num repente haveria de descobrir
queria ereção, amor
deleite sexual
clímax
através da junção carnal entre
um fálus monstruoso e um
orifício guloso
mesmo que a intuição pedisse
não
a satisfação
falava
sim.
Eu odeio este ser que se diz humano
Travestido em panos
dize aos ouvidos das manhãs
crê nas canções ao entardecer
vê no esquecimento
outras conquistas ao anoitecer
eu enlouquecido pelo conteúdo
de suas cuecas
ele encantado pelo saldo bancário
pelas marcas guardadas no meu armário
pelos passos dos meus sapatos
e nos limites dos meus cartões liberados
nome limpo, alma aberta
Eu odeio estes animais que povoam esta
floresta
Imundo
deitado neste sofá,
sem coragem de me olhar
cada segundo aproveitado
uma eternidade perdida
contaminado pela cólera da mentira
envergonhado pelo descaso
com o cuidado
abandonado por tudo que presei
dignidade,
sinceridade,
amor próprio,
inundado de ressentimentos
questionado até pelos meus
questionamentos,
impressionado pelo emburrecimento
o amor que fica
bate, lateja, petrifica
o amor que fica
não é o gozo que penetra
e te infecta
o amor que fica
são doses de retrovirais
são exames mensais de
coletas sanguineas
são mudanças de hábitos e rotinas
o amor que fica refletido na retina
é a dor em saber
que só pensei em prazer.
Eu odeio esses seres desumanos
eu odeio, eu me odeio como ser humano
eu odeio entender que a salvação
são os horário certos dos remédios
o tempo correto da refeição
Eu odeio saber que ele continua
a meter
esperança na ignorância
de quem como eu acredita que o conteúdo
da cueca seja a única forma de chegar ao
paraíso.
Eu odeio saber que os culpados
estão separados agora
e a culpa é dividida
assumo o que me cabe
o fardo da minha parte
sentidos e caminhos diferentes
um carimbando os passaportes
pro inferno alheio,
outro deitado no purgatório
assistindo seu próprio enterro
Velando sua alma derretida
pela fogueira da vida
Eu odeio saber
que o ódio nesse momento
não me serve como alívio
pra seca de lágrimas,pois
nem forças tenho pra chorar.
Eu odeio os seres humanos.
É por isso que me odeio
e só isso que me faz manter vivo
o ódio que sinto
do cinto que teima em abrir abrigo
para outro buraco
sintoma do fiasco
efeitos dos meus atos.
Eu odeio os seres que como eu
se arrependem dos seus fracassos
Eu odeio os seres humanos e seus
desejos brejeiros, e ao pegar
Clarice depois de tantos anos
se depara com a frase:
"Passei a vida tentando corrigir os erros
na ânsia de acertar".
não tenho nada a falar
Eu odeio os seres humanos.
ANDI VALENTE.
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