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sábado, 2 de outubro de 2010

Poeta do pára-brisa.

O mar de pichain em noite de lua cheia
morenos, negros, enrrolados, suados
com seus textos numa mão e noutra a flanela
molhada, manchada, enxarcada, surrada
bailam entre os expectadores atonitos
pela indignação ou pela pluralidade de expressão.

O poeta do pára-brisa prefere as madrugadas
às noites enluaradas,
suas mãos descrevem os sofrimentos pelos
movimentos contínuos,
sua alma embaçada faz da flanela
uma caneta encantanda, seus braços
são as páginas de uma história inacabada.

O poeta singelo, desembaraça suas traças
nas vidraças das carcaças quadrupedes
motorizadas, que trazem o pavor dos olhos
o medo alcoólico, o lúdico sóbrio, um medo
módico, pelo simples gesto de um limpar
de olhos.

Os poemas são versos ricos, de mensagens
nobres, mas em água benta, beatifica
os vidros dos condutores atrás apenas de:
- Uma moeda por favor.
Qualquer coisa serve para esse nobre pedestre
de gestos estimulantes, pedantes de uma vida
de significantes, rimas  que os trapos teimam
limpar num bailar dançante da palhetas.

O poeta circula itinerante, pelos vãos, entre
um andante e outro, atrás de um sentindo
nobre para suas escritas que não se publicam
poemas raros, frases de um idioma comum
dores sentidas nas cabeças e mãos que dizem não,
não quero, não precisa, hoje eu não tenho nada,
poeta,
maltrapilho, malandro, vagabundo errante.

O mar de poetas que inundam as vias das cidades
frias, com discursos repetidos, dores demasiadamente
distintas, frustram a multidão, acomodada a decifrar o
óbvio, incomodada com a mudança, indignada com o não
que não tem tolerância,
não entende a extensão da beleza
que a pureza das mãos  e a escrita borrada no vidro
e o trocado maldito, podem mudar uma criação, ritmar
uma canção, salvar uma nação ou simplesmente
mortificar um coração.

andi valente.

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