Do quarto andar ouço,
mais do mesmo,
um casal exaltado,
brigas e o mesmo desfecho.
Do quarto andar vejo,
janelas entreabertas,
olhos e o mesmo desejo
de ouvir e ver o desespero alheio.
Do quarto andar mesmo
curioso, desço,
receoso, caminho vagaroso,
mas do que o silêncio não vejo
motivo pra tanto medo.
Do térreo a gritaria continua suja,
fagulhas do mesmo apartamento,
choro, lamento, arrependimento,
sai da minha vida nesse momento!
Um grito!
O tiro!
Sofrimento!
A curiosidade dos vizinhos,
pelos desdobramentos,
sacodem meus pensamentos...
E o amor que fora feito pelo beijo,
foi desfeito de qualquer jeito,
a sirene da ambulância invade
a madrugada,
polícia e perícia fazem revista,
colhem depoimentos,
fim de mais um casamento.
Do quarto andar olho,
entre as frestas o movimento,
e penso comigo:
"Tenho trabalho ao amanhecer".
Do quarto andar só olho os curiosos,
as falácias e o imbróglio,
e digo:
"Não sei pra que tanto lamento",
se não fossem as mortes como viveriam os coveiros!
Morreu, enterra,
eu olho e penso que o próximo pode ser um dos meus,
enquanto não,
vivo,
e quem não vive morre!
Deito e durmo,
não foi comigo mesmo!
andi valente
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